‘Setembro Verde’: Transplante de rim une irmãos e fortalece vínculo familiar no cárcere

Uma história de amor incondicional e de solidariedade marcou a vida da família de Geovani de Souza Agostinho, em agosto do ano passado. Mesmo estando preso no Centro de Detenção e Ressocialização de Linhares (CDRL), ele não hesitou em realizar, em vida, a doação de um rim para o irmão mais velho, que enfrentava problemas renais há sete anos.
Após a realização de exames para verificar a compatibilidade do transplante, a cirurgia foi marcada e realizada no Hospital Evangélico de Vila Velha no dia 27 de agosto de 2024. “Foi um sonho realizado. Sempre quis fazer algo bom pela minha família e me sinto realizado por ter transformado a vida do meu irmão, por quem tenho um amor incondicional”, disse Geovani.
Ao ser questionado sobre repetir o gesto, ele responde de imediato. “Com toda certeza, faria tudo de novo. A cirurgia foi um sucesso e esse ato de amor fortaleceu ainda mais o vínculo com o meu irmão e a minha família. Meu irmão vem me visitar todo mês, está feliz, com uma filha de um ano e grato por ter recebido uma outra chance”, disse, emocionado.
Após um ano da cirurgia que salvou a vida do irmão, Geovani mantém a saúde estável e segue uma rotina normal dentro da unidade prisional. Ele recebe acompanhamento regular da equipe multidisciplinar de saúde e faz revisão anual junto ao hospital referência em transplante no Estado, onde a cirurgia foi realizada.
Interno do sistema prisional desde 2022, por envolvimento com o tráfico de drogas, Geovani destaca que o período em cárcere teve um propósito na sua vida. “Foi aqui onde consegui me afastar das drogas e recuperar minha saúde. Pude estar pronto para fazer algo bom por minha família. Consegui transformar não só a vida do meu irmão, mas a minha também”, contou.
No Centro de Detenção e Ressocialização de Linhares (CDRL), Geovani concluiu o Ensino Médio e tem participado de cursos de qualificação, como o de Empreendedorismo Rural, pelo Qualificar-ES. A expectativa agora é de um recomeço. “Com a doação, pude restabelecer a saúde do meu irmão e receber o perdão e a união da minha família. Eu também me autoperdoei e só espero seguir um caminho diferente daqui para frente, uma vida digna, poder ajudar meus pais e dar orgulho à minha família”, comentou.
Vida nova
Ediones de Souza Agostinho recebeu o transplante de rim aos 34 anos, com a esperança de viver uma nova vida. “Passei por hemodiálise por quase sete anos. Foi um período muito difícil, que exigiu esforço para me adaptar a uma nova realidade, com muitas restrições. Tive que deixar de trabalhar, me adaptar a uma nova dieta, além de não conseguir praticar atividade física. Fiquei cinco anos na fila de transplante aguardando uma chance, mas essa chance veio do meu irmão”, disse.
Ele complementou: “Hoje, minha rotina é normal, reduzi muito medicamento e tenho uma vida nova. Não consigo expressar a felicidade que sinto. Tenho um pedaço do meu irmão dentro de mim e agradeço muito a ele por ter feito tudo isso para salvar a minha vida.”
O transplante deu ao Ediones uma chance de sonhar. “Meu maior sonho é dar um futuro cheio de oportunidades para a minha filha e também realizar meus próprios objetivos, como conquistar minha casa e continuar cuidando da minha família com amor. Quero conseguir retribuir tudo o que meu irmão fez por mim”, disse.
Doação
Mais dois internos do sistema prisional do Espírito Santo realizam exames de compatibilidade para a realização de transplantes de rim aos seus familiares. Um deles está no Centro de Detenção Provisória de São Mateus (CDPSM) e outro na Penitenciária Estadual de Vila Velha 3 (PEVV3).
Os casos são acompanhados pelas equipes de Saúde e Psicossocial das unidades e dos hospitais de referência. O trabalho integrado é necessário para o esclarecimento de dúvidas e suporte em todas as etapas, desde a triagem até o pós-operatório, os riscos e desafios para quem doa e recebe um novo órgão.
Nesse processo, a avaliação do estado emocional do doador e de familiares é fundamental, ação que envolve não apenas a psicologia, mas a atuação do serviço social da unidade prisional. Dessa forma, é assegurado que todos estejam preparados para a decisão de doar um órgão em vida.
“A doação de órgãos, especialmente em vida, exige muito mais do que vontade: exige consciência, preparo emocional, apoio profissional e, principalmente, humanidade. E é isso que estamos buscando construir dentro do sistema prisional do Espírito Santo: um ambiente onde o ser humano tenha a oportunidade de refletir, se reerguer e contribuir positivamente com a sociedade e com aqueles que ama. Quero parabenizar as equipes de saúde e psicossocial das unidades prisionais, que acompanham cada etapa desse processo com responsabilidade, sensibilidade e respeito”, destacou o secretário de Estado da Justiça, Rafael Pacheco.
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